Por isso , em parceria com o professor de geografia Luis Felipe Valle, do Curso e Colégio Oficina do Estudante, As “aniversariantes” foram organizadas das mais velhas para as mais novas. Bandeiras americanas em um muro privado na fronteira entre Estados Unidos e México em Ciudad Juárez. — Foto: Jose Luis Gonzalez/Reuters 200 anos da Doutrina Monroe (1823) Não se assuste pelo nome: o slogan da doutrina é bem famoso e fácil de entender. O , segundo Valle, era uma tentativa de trazer a independência dos países, principalmente da América Latina, em relação à colonização europeia. Há dois séculos, sob o comando do presidente James Monroe, os já se diziam Ou seja, a independência dos países latinos saía cara porque a intenção dos norte-americanos ao ajudar financeiramente ou militarmente era incentivar a independência da Europa para que os estados ficassem sob a influência dos Estados Unidos. CLT foi a primeira legislação unificada no Brasil a abordar direitos e deveres dos trabalhadores e empregadores — Foto: getty images 80 anos da CLT (1943) Viajando para a outra ponta da América e 120 anos no tempo, em 1943 o presidente Getúlio Vargas promulgou um pacote de leis para tentar proteger os trabalhadores em um momento de intensa industrialização do Brasil. A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) também era uma forma de ganhar apoio político. “A gente sabe que o Vargas tinha uma política bastante populista”, afirma o professor Valle. Além disso, ela foi uma forma de O professor também traz um panorama importante após 2017, quando Michel Temer assumiu a presidência após o impeachment de Dilma Rousseff. Com a promessa de gerar mais empregos e desburocratizar a economia, a reforma trabalhista proporcionou uma hiper flexibilização dos direitos dos trabalhadores. Como não há mais a obrigatoriedade de cumprir certos direitos, especialmente para diversos trabalhadores que foram convertidos para PJ (pessoas jurídicas) e profissionais autônomos, a realidade é um aumento da jornada de trabalho e redução das garantias trabalhistas. “Pessoas que têm menor poder aquisitivo que, embora sejam chamados de empreendedores, muitas vezes trabalham 12, 14, 16 horas por dia, sem folga, sem descanso, para mal conseguir pagar as contas no fim do mês e sem qualquer direito, como 13º, férias remuneradas, recolhimento do FGTS, e apoio depois do INSS para ter uma aposentadoria um pouco mais confortável”, diz Valle. Fidel Castro e Che Guevara foram companheiros na Revolução Cubana — Foto: Cuba’s Council of State Archive/AFP 70 anos da Revolução Cubana (1953) A Doutrina Monroe acabou mais cedo em Cuba. Em 1953, um movimento revolucionário liderado por Fidel Castro surgiu fruto da insatisfação com a ditadura de Fulgêncio Batista e da influência norte-americana no país na América Central. Para entender a revolução cubana, é preciso voltar mais um pouco no tempo. Cuba se tornou independente da Espanha em 1898 e contou com o apoio estadunidense para isso, que se tornou o “quintal” dos EUA. Uma das principais características dessa influência norte-americana era a Emenda Platt, um tratado que determinava o direito dos EUA de intervir em Cuba sempre que julgassem necessário. O governo de Fulgência Batista, é claro, ia de acordo com os interesses estadunidenses. O conflito acabou só em 1959, com a queda de Fulgêncio Batista. Com isso, o país entrou para a lista de aliados da União Soviética e passou a representar uma ameaça bem próxima aos Estados Unidos. As relações diplomáticas entre EUA e Cuba foram rompidas de vez em 1961, e um ano mais tarde ocorreu a Crise dos Mísseis, um dos momentos mais tensos da Guerra Fria. Guerra do Yom Kippur: confronto teve consequências profundas na política israelense — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução 50 anos da Guerra do Yom Kippur (1973) O ano de 1973 foi muito agitado e, a partir de agora, vai aparecer bastante por aqui. Começando pela Guerra do Yon Kippur, quando os países árabes se juntaram com a Palestina para enfrentar Israel. Parece familiar? Na época, Israel tentava consolidar seu poder militar na criação do Estado e, claro, recebia apoio dos Estados Unidos. Uma curiosidade interessante é que este feriado segue o calendário lunar e, a cada ano, é comemorado em uma data diferente. Como resultado, Israel tomou o controle de territórios importantes para o Egito e para a Jordânia, que faziam parte da ofensiva árabe: a Península do Sinai, o Canal do Suez, as nascentes do rio Jordão e o Monte Sião. O que nos leva ao próximo ponto. Uma tocha de gás em uma plataforma de produção de petróleo nos campos de petróleo de Soroush é vista ao lado de uma bandeira iraniana no Golfo Pérsico, no Irã — Foto: Raheb Homavandi/File Photo/Reuters 50 anos da 1ª grande crise do petróleo (1973) Em resposta à Guerra do Yom Kippur, o Irã, apoiador da Palestina e o principal país produtor e exportador de petróleo, na época, Isso gerou o Choque do Petróleo de 1973. Com a interrupção no fornecimento de petróleo, e provoca uma série de crises econômicas em diversos países ao redor do mundo — inclusive no Brasil. Na época, o Brasil estava sob a ditadura militar e o governo estava profundamente endividado com os Estados Unidos para financiar o milagre econômico. “A elevação do preço do petróleo faz o preço do dólar disparar, e é nesse momento que a farsa do milagre econômico começa a ser exposta”, diz Valle. Isso gera uma outra consequência para o país. Com o encarecimento do petróleo, o programa pró-álcool para a produção de etanol e motores de carros movidos a etanol tem início. “Essa sim, uma política bem sucedida que coloca hoje o Brasil na liderança de produção de combustíveis renováveis”, explica o professor. Exército em frente ao palácio presidencial de La Moneda bombardeado durante o golpe militar, Satiago, Chile, entre 21 e 30/09/1973. — Foto: Evandro Teixeira/Acervo IMS 50 anos do golpe militar no Chile (1973) A América Latina também tem um 11 de setembro sangrento: 28 anos antes do atentado ao World Trade Center, o Chile sofreu um golpe militar que colocou o ditador Augusto Pinochet no poder. Pinochet, até então, era comandante do exército chileno. Ele liderou os militares na captura do Palácio de La Moneda, o palácio presidencial, que terminou com a morte do presidente democraticamente eleito Allende era socialista e a política dele limitava bastante a interferência dos Estados Unidos no país. “Isso acabou servindo como um catalisador do golpe e do início da ditadura sangrenta de Pinochet, que durou até 1999”, explica o professor Valle. A imagem mais famosa da Guerra do Vietnã, feita pelo fotógrafo Huynh Cong ‘Nick’ Ut, da Associated Press, completa na semana que vem 40 anos desde o dia em que foi tirada. A menina Kim Phuc, hoje aos 49 anos, conta que a fotografia passou a ‘persegui-la’. — Foto: Nick Ut/AP 50 anos dos Acordos de Paz de Paris (1973) Os Estados Unidos são protagonistas da política mundial hoje e, há 50 anos, não era diferente. Durante a Guerra Fria, houve vários confrontos indiretos entre os norte-americanos e a União Soviética. Apesar da vitória, as consequências da guerra para o Vietnã foram devastadoras. “As cicatrizes do massacre ali são muitas. Até hoje é fortemente percebido um período de decadência econômica, sucedido de um estrago gigantesco pela indústria da guerra, mas parece que o dinheiro para as operações militares não faltava”, afirma Valle. Hoje, apesar das dificuldades enfrentadas por décadas, nome dado a um conjunto de territórios do leste e sudeste da Ásia que experimentaram um rápido processo de crescimento econômico e industrial a partir da segunda metade do século 20. Ironicamente, o Vietnã hoje também conta com o apoio financeiro dos norte-americanos, que tentam combater a expansão chinesa no mercado global como aconteceu em lugares como Coréia do Sul, Hong Kong, Tawain, Singapura, Malásia e Indonésia. Quase um ano após a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o chamado Brexit, os dois lados fecharam um acordo para definir as novas regras na relação entre eles. — Foto: Getty Images via BBC 30 anos da União Europeia (1993) Um dos principais blocos políticos e econômicos do mundo também completa uma idade marcante em 2023. Em 1993, dois anos após o fim da Guerra Fria, a comunidade econômica europeia criada em 1957 pelo tratado de Roma dá lugar à União Europeia, que nasceu com a assinatura do tratado de Maastricht. “É um bloco que trouxe uma moeda comum, muito bem sucedida, que é o euro, e conseguiu ressuscitar economias que estavam em severas crises”, explica Valle. Alguns exemplos são a Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Espanha. Mas a União Europeia também teve suas turbulências, principalmente com a crise econômica de 2008, a deflagração da Primavera Árabe e os conflitos em parte da África e no Oriente Médio, principalmente na Síria. “Um fluxo muito intenso de refugiados acabou se direcionando para a Europa a partir de 2011, agravando o problema estrutural que já existia em países como Portugal, Espanha, Itália, Grécia e Irlanda, do endividamento público e do desemprego estrutural. Isso fez com que uma onda nacionalista ganhasse muita força, dando início a movimentos de ruptura com a União Europeia, como o Brexit”, explica do Valle. O Brexit, aliás, A saída do Reino Unido do bloco se deu em 2016, durante uma votação apertada. Bombardeio do Iraque por forças dos EUA em 2003 marcou início da guerra contra regime de Saddam Hussein — Foto: AFP 20 anos da Guerra do Iraque (2003) Mais uma guerra envolvendo diretamente os Estados Unidos. Antes dos atentados de 11 de setembro, o Iraque já foi aliado dos EUA no combate ao Irã durante a década de 1970. Mas as coisas mudaram. O primeiro conflito desse pacote foi contra o Afeganistão, em 2001, e logo em seguida os EUA invadem o Iraque para derrubar Saddam Hussein. Hussein era um importante líder sunnita do mundo islâmico. “De mesma orientação religiosa, portanto, do Osama Bin Laden”, explica Valle. Hoje, o Iraque ainda vive em uma situação extremamente precária onde grupos terroristas, como o Estado Islâmico, tem ganhado muita força. “Os Estados Unidos, a França, o Reino Unido, os países que gostam mais desse intervencionismo da OTAN, renovam essa justificativa de que é necessário combater o terrorismo com mais guerra, com mais armas, com mais destruição, com mais violência”, afirma Valle. Mas o professor destaca que o Iraque, apesar da situação atual, já foi um dos lugares mais prósperos do planeta. Entre o Rio Tigre e Eufrates, no passado, Manifestação em junho de 2013 no centro do Recife, durante as Jornadas de Junho — Foto: Acervo/TV Globo 10 anos das Jornadas de Junho (2013) Parte da história recente do Brasil, as Jornadas de Junho completam sua primeira década este ano. Tudo começou por conta de manifestações contra o aumento da tarifa do ônibus. “Acho que todo mundo se lembra do povo na rua dizendo que não era pelos 20 centavos”, diz Valle. “Em algum momento, virou um combate à corrupção sem haver uma centralização exatamente nessa agenda”, explica o professor de geografia. As manifestações tiveram momentos bastante tensos, como o enfrentamento da polícia e de grupo como os Black Blocks. O nome é inspirado no grupo francês de mesmo nome e também no movimento da Primavera Arábe em 2011. “Havia uma espécie de sentimento de revolta e essa necessidade de manifestar isso nas ruas, muitas vezes de forma democrática e, em alguns momentos de forma mais agressiva, através de manifestações consideradas como vandalismo. Mas o grande problema acabou sendo a generalização das pautas. Esse ‘contra tudo e contra todos’ desestabiliza, politicamente e economicamente, o país”, explica Valle. Uma das consequências que o professor enxerga das Jornadas de Junho foi a retirada da presidente democraticamente eleita Dilma Rousseff do poder três anos mais tarde. Michel Temer assumiu o governo e isso deu margem, como já foi dito anteriormente, à reforma trabalhista. “Dez anos depois, olhando em perspectiva, a gente observa que lamentavelmente houve até mesmo um desmonte de mecanismos de combate à corrupção”, diz Valle. Os ataques terroristas de 8 de janeiro também podem ser ligados à Jornada de Junho, de acordo com o professor.