Lado Rural Sistema foi desenvolvido pela Embrapa-Gado de Corte, de Campo Grande (MS), e não usa acaricidas A chegada do período das águas e das altas temperaturas no campo coincide com o início de uma nova preocupação para o pecuarista: a infestação de carrapatos no rebanho bovino. Mato Grosso do Sul tem um plantel de 18,6 milhões de cabeças, a maioria absoluta criada em sistema de engorda em pastejo extensivo, o que aumenta a incidência do parasita. Um estudo da Embrapa realizou controle de carrapatos em bovinos sem o uso de produtos químicos, utilizando apenas estratégias de manejo, com os animais em pastejo em diferentes regiões. Chamado de Lone Tick, o sistema obteve resultados iniciais de 82% de redução da população de parasitas nos rebanhos. O trabalho está sendo desenvolvido nos biomas Cerrado e Pampa. O trabalho de pesquisa no Cerrado avaliou durante um ano o controle da infestação de carrapato Rhipicephalus microplus em bovinos da raça senepol, no sistema de manejo rotacionado, obtendo uma média de dez carrapatos por animal, sem uso de acaricidas. O estudo será realizado por, pelo menos, dois anos. “Quando há cerca de 40 carrapatos no animal, significa que teremos problemas econômicos no rebanho”, informa o pesquisador da Embrapa Gado de Corte, Renato Andreotti, responsável pela atividade de controle do carrapato-do-boi sem o uso de acaricidas. “Na raça senepol, sensível ao carrapato, o projeto obteve sucesso. A meta agora é conseguir resultados semelhantes na raça angus – animais produtivos e mais sensíveis ao carrapato – e presentes em diferentes regiões do País”, observa. Não se sabe ao certo o tamanho do prejuízo no rebanho bovino sul-mato-grossense, mas estima-se que no Brasil, a infestação de carrapato cause R$ 3,2 bilhões por ano de prejuízo econômico para a pecuária. Diante desse cenário, os produtores precisam investir no controle da proliferação desses inimigos, principalmente em grandes rebanhos, pois a contaminação é rápida, silenciosa e, como os números mostram, compromete terrivelmente o resultado econômico do projeto”, afirma o médico-veterinário Thales Vechiato, gerente de produtos para animais de produção da Pearson Saúde Animal. O clima tropical, característico do Brasil, é ideal para os parasitas, principalmente nas épocas de calor e chuva – cenário que em 2023 e parte de 2024 será agravado pelo fenômeno climático El Niño. As altas temperaturas e a umidade do ambiente podem, assim, aumentar o desafio de endoparasitas, que vivem dentro do corpo do animal, e de ectoparasitas, que atacam o couro e a pele dos bovinos. Tristeza parasitária bovina A presença do carrapato nos animais faz com que seus agentes causem o aparecimento da doença conhecida como TPB (tristeza parasitária bovina), o que pode levar os animais à morte. Caso não seja adotado um controle pelo produtor, este sofrerá grandes prejuízos. “Não se tem registros exatos de mortes de animais por TPB no País. Um agravante do problema vem do melhoramento genético. Os produtores de gado de corte utilizam cruzamentos com raças mais produtivas para aumentar a produtividade do seu sistema por meio da precocidade, qualidade da carne, entre outros fatores, mas essas raças são mais sensíveis ao carrapato. Com o gado de leite o problema se repete. Animais mais produtivos costumam também ser mais sensíveis ao carrapato, e isso provoca uma perda anual de leite de 95 kg por animal, principalmente com a raça holandesa e em sistema de produção familiar, acarretando diminuição nos lucros. O controle Lone Tick Lone tick, traduzido da língua inglesa por carrapato solitário, é um sistema de controle sanitário sem uso de acaricidas, ou seja, sem a realização de controle químico. “Nossa intenção é apresentar uma solução global, pois o carrapato é um problema mundial”, destaca. Ele cita a infestação de carrapatos na pecuária da Austrália, um grande mercado de produção de bovinos, passando pela África, América do Sul e América do Norte (México e Estados Unidos). No Lone Tick, muda-se o boi de pasto, separando o animal do carrapato, e alternando consecutivamente o local de pastagem do rebanho. O pesquisador conta que o tempo de uma rodada de quatro pastagens até ao retorno à área inicial é de 112 dias. Esse manejo promove um vazio forrageiro/sanitário de 84 dias, no local da pastagem inicial, período em que as larvas do carrapato ficam solitárias e morrem por falta de animais no local para se hospedar e se alimentar. “Ou seja, matamos o carrapato, sem utilizar produtos químicos”, resume. * Com informações da Embrapa. Clique no link abaixo e acesse o Comunicado Técnico da Embrapa sobre o Sistema Lone Tick. COT-167-CNPGC-Controle-do-carrapato-bovinos.pdf