Aconteceu no Huila, a região mais produtora de café da , o país que fornece um dos cafés mais ricos e populares do mundo. Lá, na área de San Francisco, assim como em qualquer outra região rural desse país, De acordo com um estudo recente da Universidade Javeriana, 18,1% nem mesmo têm fornecimento de energia elétrica, e 61,5% dos estudantes rurais precisam se deslocar a pé até suas escolas, muitas vezes em territórios extensos. Portanto, não é surpreendente que hoje a Instituição Educativa Montessori, unidade San Francisco, não possua biblioteca nem sala de professores. 💰E o que é quase milagroso é que recentemente tenha recebido superando escolas de países como Emirados Árabes, Filipinas, China, Argentina e Canadá. 🏆Este prêmio é o resultado de , sob o nome de CafeLab, um laboratório inovador inspirado na natureza cafeicultora das famílias de seus 380 alunos. A BBC Mundo conversou com o diretor do projeto e com uma das alunas para entender como conseguiram transformar seu ambicioso sonho em realidade. Professor Ramón e o dilema do café Professor Ramón com um dos moradores da comunidade de Pitalito. — Foto: William Hernández Guerrero/BBC Ramón Majé Floriano tem 39 anos e é professor de matemática e física. Ele começou a trabalhar na localidade (zona rural) de San Francisco em 2017. A primeira coisa que ele percebeu ao chegar foi que a instituição da qual passou a fazer parte, que leva o nome Montessori, não é afiliada e não pratica o famoso método de educação italiano, que atualmente é utilizado principalmente em escolas de classe alta. “Perguntei e me disseram que não tinha nada a ver com o método e que colocaram esse nome porque era bonito”, explica. Em seguida, Ramón conheceu seus alunos dos últimos anos do ensino médio. Eles lhe contaram com muito orgulho que a região, o Huila, é a maior produtora de café do país. De fato, ela manteve essa posição pelo menos até 2022, segundo um relatório da Federação Nacional de Cafeicultores da . “Aqui no município de Pitalito (onde fica San Francisco), 10.800 famílias vivem do café. O município possui 21 hectares cultivadas com grãos e a produção atinge pouco mais de 220.000 cargas de pergaminho seco por ano”, acrescenta. Assim, a maioria dos alunos cresceu em fazendas de café, pertence a famílias dedicadas à colheita do café ou está envolvida em alguma atividade econômica relacionada ao grão de café. E esse foi o ponto de partida do projeto do professor Ramón, como é chamado na escola. O professor e seus alunos começaram então com uma primeira fase de observação, realizaram saídas pedagógicas e focaram em entender as práticas de produção da comunidade. “Foi assim que começamos a descobrir que por trás da produção da xícara de café de alta qualidade existe um impacto ambiental sobre o qual não se fala na . Fala-se do melhor café do mundo, mas por trás desse café há um enorme problema de contaminação.” Especificamente, perceberam que em toda a cadeia de produção de café existem cinco tipos de resíduos naturais que, quando descartados, contaminam e alteram o meio ambiente e os ecossistemas nativos: “Alguém pode dizer que, por serem resíduos naturais e orgânicos, podem ser descartados sem problema para se decompor. No entanto, o problema é que o ecossistema não está preparado para uma alta carga desses resíduos orgânicos. Vinte mil hectares gerando, por exemplo, a polpa (casca) que é altamente ácida, vão alterar a acidez do solo e, portanto, o ecossistema. Além disso, vários resíduos acabam nos riachos e rios da região, contaminando a água”. CaféLab Alunos com teste experimental de bateria elétrica baseada na casca e mucilagem (substâncias químicas) do fruto do café. — Foto: William Hernández Guerrero/BBC Com o problema identificado, o professor e os estudantes começaram a trabalhar em possíveis soluções. A ideia deles era criar uma relação direta entre a escola e a comunidade, e entre a comunidade e o território. Cada proposta de solução foi tratada como um projeto independente que deveria passar por três etapas: imersão, transferência e comunicação. Mas conseguir os equipamentos e ferramentas mencionados pelo professor não tem sido nada fácil; os poucos que possuem foram adquiridos com muito esforço. “Às vezes as pessoas comentam que talvez tenhamos ganhado os prêmios com sorte, mas não imaginam tudo o que tivemos que fazer. A instituição hoje não tem sala de professores, não tem biblioteca e até oito meses atrás não tinha conexão com a internet.” Essas feiras costumam ser eventos nos quais projetos classificados em diferentes temáticas são apresentados e os melhores são premiados, alguns prêmios incluem reconhecimento e a oportunidade de viajar para a feira, enquanto outros podem ser equipamentos ou recursos econômicos. Lucía, uma estudante do décimo ano, atualmente com 16 anos, teve a oportunidade de viajar para o Brasil com um colega para representar a escola na Expo Milset, uma feira de ciências. “Viajamos no ano passado para Fortaleza. Competimos com aproximadamente dez países e mais de 30 projetos, e ganhamos o primeiro lugar internacional.” Essa oportunidade também marcou sua primeira viagem de avião e sua primeira saída da . “Foi muito impactante, quando me disseram que viajaria, comecei a chorar de emoção, não acreditava porque eu nem mesmo tinha passaporte… Amei o Brasil, agora gostaria de ter a experiência de morar e exportar nosso café para lá.” Hoje em dia, Lucía trabalha em um projeto de sabão feito a partir do resíduo que fica na xícara de café. “Eu quis criar um sabão esfoliante. Pensei nisso, consultei e passei pelas três fases do projeto CaféLab. Depois fiz o protótipo, o design, o teste e a avaliação. Levei um ano tentando até conseguir, porque você tem que trabalhar até atingir a meta; se se propõe, consegue”, conta. Mas essa é apenas uma das várias soluções que foram criadas e aprimoradas ao longo desses quase sete anos de trabalho no laboratório. “Com a polpa (casca), fazemos bebidas aromáticas, vinhos, doces e farinhas. Com o mucílago, estamos gerando energia capaz de acender uma lâmpada. Com o caule da planta, devido à sua alta densidade e resistência, fabricamos móveis. Por exemplo, a sala de matemática onde nos reunimos tem mesas e cadeiras feitas de caules de café”, explica o professor Ramón. Professor Ramón, Lucía, funcionário do Ministério de Ciências da Colômbia e estudante Alan James. — Foto: Divulgação/BBC Além disso, o projeto adotou uma abordagem de gênero para contribuir na redução da lacuna de desigualdade. “Geralmente diziam: ‘Como você é mulher, sirva como secretária’ ou ‘Como você é mulher, encarregue-se de trazer os materiais’, então decidimos virar essa situação de cabeça para baixo e dar espaço para que as mulheres liderem e coordenem os grupos de trabalho”. Por essa razão, estudantes como Lucía têm tido acesso a diversas oportunidades que geralmente não estão disponíveis para mulheres em contextos rurais. Lucía, por exemplo, se formará no próximo ano e sonha em fazer parte da Força Aérea para ter uma renda estável e deseja criar seu próprio empreendimento. “Quero me profissionalizar e gerar renda para exportar minha própria marca de café. Gostaria que a fazenda dos meus pais, dos meus avós e da minha família se tornasse um ponto central de café de alta qualidade com consciência ambiental.” A melhor escola do mundo Em 3 de novembro de 2023, a escola rural de San Francisco estava cheia de pessoas. Foi a primeira vez que a ministra da Educação da visitou, acompanhada por jornalistas de vários veículos locais, nacionais e internacionais. A visita ocorreu porque a plataforma global T4, sediada em Londres, anunciaria os vencedores do prêmio de educação entregue anualmente em quatro categorias diferentes, e a instituição rural estava entre os finalistas. “Na nossa sede, somos 16 professores, somos poucos, mas estamos fazendo barulho, até internacionalmente”, explica o professor Ramón. Ele explica que nesse dia foi anunciado que a Instituição Educativa Montessori, com sede em San Francisco, era a vencedora do prêmio de ação ambiental, superando outros dois finalistas das Filipinas e dos Emirados Árabes. O prêmio “reconhece e celebra as escolas que desempenham um papel ativo na luta contra a crise climática, por meio da educação de seus alunos e da comunidade em geral, ajudando-os a tomar medidas para proteger seu futuro”, conforme explicado pela T4 em seu site. Desta vez, além do reconhecimento internacional que atraiu a atenção de várias instituições e destacou essa pequena comunidade no sudeste colombiano, a escola recebeu US$50.000 que ajudarão a aprimorar o laboratório. “Esperamos poder criar três salas especializadas para cada etapa do projeto: um laboratório de ciências, uma oficina de agroindustrialização e um espaço para desenvolver competências de comunicação. Pretendemos usar esses recursos para começar a equipar as salas de aula”, explica o professor. O projeto já possui várias linhas de ação em diferentes temas ambientais, como energias renováveis, materiais, alimentação e recursos agrícolas. Um de seus maiores feitos é ter alterado o currículo de todas as sedes da instituição educacional. “Agora, não impactamos apenas os 380 alunos desta escola, mas os 3.300 de toda a instituição, e o novo currículo é para ser trabalhado por 126 professores. Todos estamos seguindo as três fases de imersão, transferência e comunicação. É um feito imenso, pois quebrou um paradigma da educação tradicional. Não foi fácil, mas estamos conseguindo”, destaca o professor. O professor e os alunos não permitiram que a precariedade os limitasse. “Estou muito orgulhosa de estudar aqui. Depois de me formar, continuarei vindo à minha escola e espero vê-la tornar-se uma referência para outras escolas. Quero que os alunos cheguem com toda a confiança e digam: ‘Sou parte do CaféLab , tenho consciência ambiental e estou contribuindo para reduzir a poluição'”, conclui Lucía. Vídeos

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