Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas fazem apanhado do que aconteceu no BRICS durante este ano e listam os principais desafios para o grupo em 2024. edit ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp. Sputnik Brasil – O ano de 2023 foi marcado por eventos importantes no que diz respeito à atuação do BRICS. Entre alguns fatos passíveis de serem listados está a adesão de novos membros, a ascensão de Dilma Rousseff à presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), conhecido como Banco do BRICS, e o avanço na discussão em torno da criação de uma moeda única para o grupo. Em entrevista ao podcast Mundioka , da Sputnik Brasil , especialistas fazem um balanço dos eventos mais marcantes para o BRICS e apontam os principais desafios para o grupo em 2024. Para Marco Fernandes, mestre em história, doutor em psicologia social, pesquisador do Instituto Tricontinental e coeditor do Notícias da China Dongsheng, o evento mais marcante para o BRICS em 2023 foi o interesse que mais de 20 países do Sul Global manifestaram de se tornarem membros do grupo . Ele acrescenta que o segundo fato importante para o BRICS em 2023, em sua avaliação, foi a expansão histórica do grupo. Nesse contexto, ele cita que foi crucial o trabalho de Anil Sooklal, da África do Sul, designado como Sherpa (o diplomata do país que é responsável por operar, em nome do Ministério das Relações Exteriores e em nome da presidência, as concertações do BRICS). “Imagina o trabalho que o Sherpa da África do Sul […] teve esse ano para fazer toda essa articulação, de dialogar com mais de 20 países que estavam se candidatando, e depois para todo o processo de escolha dos seis novos países.” Dilma Rousseff, a presidente do Banco do BRICS a partir de 2023 Ele também destaca a atuação de Dilma Rousseff à frente do Banco do BRICS, afirmando que o fato dela ser indicada para o cargo traz para o Brasil um destaque importante . O que é o Banco do BRICS? Fernandes argumenta que Dilma “tem feito um excelente trabalho, em vários níveis”, em sua gestão como presidente do Banco do BRICS, e cita como exemplo o fato de o banco voltar a ter debate público . Outra boa medida tomada por Dilma, na avaliação de Fernandes, foi o fato de o Banco do BRICS voltar a captar recursos . Qual o papel de Dilma no BRICS? Ele acrescenta que desde que Dilma ascendeu à presidência do Banco do BRICS já foram captados “o equivalente a US$ 6 bilhões de dólares (cerca de R$ 29 bilhões) neste ano”, com expectativa de chegar a US$ 7,5 bilhões (cerca de R$ 36 bilhões) nos próximos dias . Qual o principal objetivo do BRICS? Para Fernandes, o principal desafio para o Banco do BRICS em 2024 será avançar no debate da desdolarização . Ele destaca que, atualmente, a maioria dos recursos captados pelo banco é em dólar. “Para vocês terem uma ideia, desses US$ 33 bilhões, somente o equivalente a US$ 5 bilhões [cerca de R$ 24 bilhões], mais ou menos, foram captados em yuans, a moeda chinesa. O resto foi a maior parte em dólares e a outra parte em euro. Ora, isso é um problema, porque justamente os países do Sul Global, quando pegam dívidas em dólares, eles estão submetidos às variações cambiais e à política monetária do banco Federal Reserve dos Estados Unidos”, explica o pesquisador. “Então isso é um problema. O banco precisa captar dinheiro nas moedas locais. Essa é a meta para 2026, captar até 30% em moedas locais. Mas, ainda assim, é pouco. Então o banco vai precisar avançar muito nisso nos próximos anos”, acrescenta. Qual seria a moeda do BRICS? Segundo Fernandes, outro grande debate previsto para o BRICS em 2024 será a criação de uma moeda única para o grupo . Primeiro, ele explica que a moeda não será algo como o euro. “Não é uma moeda que vai circular, não vou ter as notinhas aqui da moeda dos BRICS para comprar um cafezinho ali na esquina.” Ele destaca que a moeda serviria “como referência para reserva entre os países do grupo, uma espécie de mecanismo em comum”. Presidência do BRICS em 2024 será da Rússia Em 2024, o Brasil deveria assumir a presidência do BRICS. Porém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao grupo para que o país não fosse alçado ao posto, já que em 2024 o Brasil também assumirá a presidência do G20, o que traria um acúmulo de funções bastante complexo. Com isso, foi decidida a antecipação da entrada da Rússia como presidente do BRICS . Para Fernandes, essa decisão veio em um ótimo momento, uma vez que a Rússia tem bastante interesse em buscar alternativas ao dólar, por ter sido cancelada do sistema financeiro ocidental. Além disso, ele aponta que a Rússia, em 2024, estará cumprindo um papel de liderança no Sul Global por conta de seu embate com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na questão envolvendo o conflito ucraniano. “Então vai juntar a fome com a vontade de comer. Acho que nada poderia ter sido melhor para o BRICS, num ano de consolidar a expansão e de avançar nos debates sobre alternativas ao dólar, do que a Rússia assumir a presidência nesse momento.” Fernandes finaliza lamentando a decisão do novo governo argentino de não dar andamento à adesão do país ao BRICS. Ele lembra que o Brasil apoiou a entrada da Argentina no grupo desde o começo e empregou todos os esforços para que fosse consolidada . “Se a Argentina não entrar, o que eu ouvi de fontes internas do BRICS é que não vai haver uma substituição imediata da Argentina. Isso seria muito ruim, porque a América Latina vai perder uma vaga que a gente conquistou com tanto esforço. Infelizmente, a gente faz parte do processo democrático, a gente precisa respeitar o resultado das eleições, mas realmente, para os BRICS, foi uma tragédia a vitória de [Javier] Milei.” Quem fará parte do BRICS em 2024? Em entrevista ao podcast Mundioka , Laerte Apolinário, professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), afirma que não houve muito critério na escolha de alguns países específicos para a expansão do BRICS, mas que alguns escolhidos trazem boas oportunidades, como a Etiópia . Ele acrescenta que, “para além da questão demográfica, o país está localizado em uma região bastante estratégica”. Apolinário destaca ainda a questão econômica, afirmando que a Etiópia “tem apresentado altas taxas de crescimento ao longo dos últimos anos, muito acima da média das economias emergentes”. Outra importante adesão, na avaliação de Apolinário, foi o Irã, país que se encontra às margens da liderança ocidental , liderada pelos EUA e institucionalizada em organizações como a OTAN”. Ele também destaca a entrada do Emirados Árabes no grupo, e ressalta que o país é “um dos maiores produtores de petróleo e gás natural do mundo, e é um grande exportador de petróleo”. Questionado se 2023 foi um ano bom para o Brasil no BRICS, o especialista afirma que sim, em médio e longo prazo. “Acredito que essa expansão possa ser positiva, em especial em função do aumento do volume de recursos, que vai permitir o maior peso relativo desse bloco em negociações em diferentes esferas das relações internacionais”, afirma Apolinário. Assine o 247 , apoie por Pix , inscreva-se na TV 247 , no canal Cortes 247 e assista:

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